quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sobre a espacialidade e sua subjetividade

"A uma estação de estrada de ferro, acompanho uma pessoa, a quem estou muito ligado afetivamente. Sua partida me causa tristeza. Os minutos passam, fecham-se as portas e o trem começa a andar. Instintivamente me ponho a correr, eu sou o veículo, estendo ainda uma vez a mão. Mas o vagão anda mais veloz. Logo me detenho. Olhando-o agora, eu sou o comboio, procuro perceber uma última vez a mão que me acena. Depois, o trem desaparece numa curva; não vejo mais nada agora; contudo, não interrompo o movimento; meu pensamento segue o trem, associa-se à sua marcha, que leva consigo para a distância toda uma parte do meu ser. Pode acontecer que, mesmo após deixar a estação, continue a acompanhar o trem, em regiões distantes. Absorvido por esse movimento, possa então esbarrar em alguém e chamado assim à realidade ambiente (não à realidade mesma), venha a murmurar aí, à guisa de justificativa: 'Perdão, eu estava longe' " (E. Minkowski, citado em Nobre de Melo, 1981, p. 341)